A DINÂMICA DO REINO
“Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas (…) conforme eles podiam compreender” (Mc 4, 33). Cada parábola é um enigma positivo que traz em si a resposta à uma indagação feita, que interroga sobre nossas certezas e toca no âmbito mais difícil de nós mesmos, quebrando as amarras de nossas ideologias. Assim, o Evangelista recorda duas parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus: a semente na terra e o grão de mostarda.
O agricultor que lança a semente na terra confia na bondade da semente e na força da terra, que fará com que brote e produza fruto. O grão de mostarda é semente pequena, mas produz arbusto capaz de abrigar os passarinhos e seus ninhos.
Em tempo de igrejas vazias, em razão da pandemia, da incerteza que cerca o mundo inteiro sobre o que virá depois deste tempo de crise, da descrença generalizada que descarta Deus como desnecessário ou O busca apenas como lenitivo de necessidades; em tempo de “teologia da prosperidade”, estas parábolas continuam a iluminar nosso caminho e a nos animar. O Reino de Deus não acontece de modo espalhafatoso, como em um espetáculo de luzes e circo, mas cresce devagar, como a semente lançada na terra.
O fazer pastoral é como espalhar sementes, sabendo que Deus é quem as faz crescer, até que chegue o tempo da colheita. Deste modo, se demonstra o valor dos pequenos gestos de amor e da perseverança no bem. Podemos não fazer muito, mas devemos fazer o que está ao nosso alcance.
Jesus nasceu e viveu num pequeno país sem importância e dominado pelos romanos. Recusou ser um messias na expectativa de muitos em Israel, da restauração de um império como os deste mundo. Ele escolheu o serviço abnegado aos pequenos, a atenção aos doentes, aos pobres, desvalidos no mundo e o acolhimento dos pecadores. E morreu na cruz, como um escravo ou malfeitor, condenado pelos poderes do mundo. Como o broto de um cedro, plantado no alto do Monte de Sião (cf. Ez. 17,22- 24) que, por seu madeiro, nos remiu a todos e, com a chave de sua cruz, abriu-nos as portas da eternidade e fundou a Igreja, presença misteriosa do Reino de Deus onde cresce o joio junto ao trigo até o tempo da ceifa. Por este motivo, dizia Santa Tereza d’Ávila “Diante de Deus é tão grande construir catedrais como descascar batatas. Tudo depende do amor com que se faz.”
Não podemos medir a eficácia do nosso trabalho por Deus pelas estatísticas. Apenas cabe-nos a tarefa de semear o Evangelho e o bem, com alegria e esperança. Talvez outros colherão os frutos de nosso pequeno semeio.
Para alimentar-nos em nosso caminho e não nos perdermos no desânimo, Cristo deixou-nos, como memorial de sua Paixão e presença até o fim dos tempos, o seu Corpo e Sangue na Eucaristia, na simplicidade de um pão e de um pouco de vinho. Assim, nosso Salvador é também nosso viático, o alimento para o caminho, o caminho por onde devemos caminhar, a verdade que devemos crer e a vida que devemos viver. Nele confiamos e esperamos ir “morar junto do Senhor” (2 Cor 8b), quando deixarmos a morada deste corpo, nossa tenda de peregrinos e, julgados no tribunal de Cristo pelo bem que fizemos no tempo. Será nosso juízo particular na hora da morte, até o dia em que, no juízo final e universal, ressuscitarmos com Ele para a vida eterna.
Por isso, com a Igreja, rezamos todos os dias: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. ” Afinal, o momento mais importante de nossa vida será aquela hora derradeira, quando se decidirá nosso destino eterno e recebermos a “devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tivermos feito ao longo de nossa vida corporal” (2Cor 5,10b).
Rezemos também “São José, pai adotivo de Jesus e esposo da Virgem Maria, rogai por nós e por todos os agonizantes deste dia! ”