A FIDELIDADE DE DEUS E A DE MARIA
Neste domingo, o Tempo do Advento chega ao seu ápice. Mil anos depois da profecia feita a Davi pelo profeta Natã, uma virgem é visitada em Nazaré, uma pobre cidade da Galileia, por um mensageiro de Deus, o Arcanjo Gabriel. Ela estava prometida em casamento a José, um pobre carpinteiro, mas da família real de Davi. Através de José e Maria cumpre-se a profecia feita por Natã.
Davi levara a Arca da Aliança para Jerusalém e desejava construir um templo para Deus, em retribuição a tudo o que Deus fizera por ele. Mas Natã disse que Deus é que lhe construiria uma casa, prometendo-lhe um herdeiro, de sua descendência, depois que ele fechasse os olhos: “Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (1 Sm 8, 16).
No tempo de Jesus, reinava sobre Israel o imperador romano e sobre os judeus, o idumeu Herodes, portanto, não descendente de Davi. A promessa feita a Natã parecia nunca mais se cumprir, embora o povo fiel continuasse cantando a fidelidade de Deus, como reza o Salmo 88: “A vossa lealdade é tão firme como os céus! ”
As palavras do anjo a Maria apontam com clareza para a realização da promessa de Deus, desde a saudação inicial: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Ela ficou perturbada com o que significaria esta saudação. E Gabriel anunciou-lhe que ela conceberia e daria a luz um filho, a quem poria o nome de Jesus, que significa ‘Deus salva’, recordando-lhe as antigas profecias feitas a Davi e a realização do anunciado pelos profetas.
Maria se perturbou ainda mais e perguntou-lhe: “Como se dará isso se não conheço homem algum? ” (Lc 1,34) A resposta do anjo apontou-lhe para a graça de Deus que tudo pode: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o Menino que nascer e ti será chamado Filho do Altíssimo” ( Lc 1,35). Como ‘arca da Nova Aliança’, a sombra do Altíssimo pousou sobre Maria. Compreendia ela agora que seria a mãe do Messias, permanecendo virgem.
Gabriel deu-lhe ainda um sinal: a gravidez de Isabel, sua parenta, que, apesar da velhice, esperava o nascimento de João Batista: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Estas palavras foram ditas anteriormente a Abraão, o pai das promessas de Deus, quando três mensageiros do Céu lhe anunciaram a gravidez de Sara, sua esposa, também estéril (cf. Gn 18, 1-4).
O anjo esperava ainda a resposta de Maria, de sua liberdade responsável. Assim que Deus age, no mais profundo respeito aos que criou livres para amar. Dos lábios de Maria, de seu consentimento, pendia a salvação do mundo, como expressou São Bernardo de Claraval.
Ela, por seu ‘sim’, abraçou a vontade de Deus e tornou-se mãe, consagrando toda a sua vida à obra da Redenção. Sua vida e a de seu noivo José, encontravam outro rumo. Eles deveriam, nas dificuldades da vida e no silêncio da oração e do trabalho, caminhar como peregrinos na obediência da fé (cf. Rm 16,26). Serão sempre ‘sim’ a Deus como Cristo, sem sofrerem mudança, porque portadores da plenitude do mistério de Deus agora manifestado (cf. Rm 16, 26).
A Imaculada não desfalecerá diante da tentação da apatia, e do abandono nos sofrimentos. Levando em seu útero o Filho da Promessa, aquela que se disse a “escrava do Senhor”, logo se dirige à casa de Isabel, grávida de João Batista e também estéril, devida sua velhice, para servi-la e certificar-se do sinal que lhe fora dado. Assim, torna-se exemplo da humanidade nova inaugurada por Cristo, o novo Adão (cf. Rm 5), sendo ela mesma revelada ao pé da cruz como a nova Eva.
Em tempo de tanto palavrório sem sentido e de tantas comunicações ocas ou falseando a verdade; de um mundo interligado, mas onde as pessoas são cada vez mais distantes e da “globalização da indiferença”, o exemplo de Maria nos estimula a também dizer sim a Deus e aos irmãos, para além das ideologias e discursos políticos. Aprendamos dela o sereno e perseverante serviço da verdade na caridade, que se realiza na liberdade da resposta de cada um de nós. Deus também nos espera.
+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro
Gostaria de receber sempre os comentários da liturgia.