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A IDENTIDADE DO CRISTÃO

Qual seria a identidade do cristão? Há um duplo caminho na resposta a esta pergunta. Todos os homens são chamados ao Batismo e à conversão dos pecados. Ele quem nos amou e escolheu por primeiro: “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, Ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,34b-35).

Pelo Batismo, nos identificamos a Cristo e nos tornamos filhos adotivos de Deus e filhos da Igreja. Esta é a nossa primeira identidade cristã. Cristão é o que foi batizado. Em casa do centurião Cornélio, da corte do Império Romano, um pagão que buscava a Deus e era generoso para com os pobres, para onde milagrosamente São Pedro foi conduzido (cf. At 10), São Pedro pergunta aos irmãos que estavam com ele: “Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo? ” (At 10,47). O Batismo nos integra ao corpo místico de Cristo.

Outro ponto essencial na resposta a esta tão importante pergunta nos é apontado por São João em sua Primeira Carta, fazendo eco às palavras e ensinamento de Jesus: “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4,7-8).

Na Última Ceia, Jesus ainda nos diz: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). “Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (Jo 7, 9-10).

Deus nos amou por primeiro. A identidade cristã funda-se, pois, no Batismo e no amor recíproco, pelo qual seremos reconhecidos como discípulos de Jesus (cf. Jo 13,35). O amor cristão brota da gratidão ao amor de Deus. Ele se antecipa em amar, não espera que o outro nos ame, mas toma a iniciativa, persevera sempre, sem esperar outra recompensa que o amor mesmo. Jesus deu a vida não pelos justos, mas pelos pecadores, quando ainda éramos devedores da justiça (cf. Rm 5,8).

O grande desafio da vida cristã é permanecer no amor de Cristo, mas não o faremos sozinhos, senão com o auxílio de sua graça, que devemos cultivar pela oração, pela escuta de sua Palavra, pela observância dos seus preceitos e pela frequência aos sacramentos: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor’ (Jo 15,10).

Como amigos de Cristo, devemos dar a vida uns pelos outros, como o próprio Jesus na cruz, amor sacrifical. Pode exigir a observância dos mandamentos, para nos mantermos em sua amizade, porque é Deus e homem verdadeiro.

A amor é fonte da alegria, como nos ensina o Senhor: “Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11). Quem descobre o amor oblativo, que se traduz nas boas obras, na caridade e no trabalho apostólico, fruto da presença de Deus em nós, e o vive, encontra a perfeita alegria, que vem de dentro, da presença do Espírito Santo, Amor do Pai e do Filho em nós. Assim, nos tornamos verdadeiros amigos de Jesus.

Este é o segredo da alegria dos santos, que se expandia mesmo nos maiores sofrimentos físicos e, muitas vezes, espirituais. São Felipe Néri e São João Bosco diziam que “um santo triste é um triste santo! ”. Estas palavras foram recordadas pelo Papa Francisco na mensagem por ocasião do 5º. Centenário de Santa Teresa d’Ávila em 2014, onde que afirma: Ser santo “não implica um espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança” (…) “quem ama sempre se alegra na união com o amado”. Ele explica ainda que é possível deixar “que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida. Então, poderemos realizar o que pedia São Paulo: ‘Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos! ’ (Fl 4, 4) ”.

Neste mês de maio, dedicado a Nossa Senhora, em que somos convidados a uma grande corrente de oração com o Rosário pelo fim da pandemia, apendamos de Maria, a Senhora das Alegrias, e de São José, homem da perfeita alegria, pela união com Jesus, o caminho da santidade alegre e disponível, do serviço obediente a Deus e do amor sem limites.

E com o Salmista, cantemos: “O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça; recordou o seu amor sempre fiel pela casa de Israel. Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai! ” (Sl 97)

+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro

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