BATIZADOS NA ÁGUA E NO ESPÍRITO
O Tempo do Natal termina na Festa do Batismo do Senhor e inicia-se o Tempo Comum quando, na Liturgia, acompanhamos a vida pública de Jesus. Ele sai do Jordão e vai ao deserto, onde foi tentado pelo demônio.
Cessam o batismo de João e todos os banhos de purificação dos judeus, que não eram mais que ritos penitenciais para preparar a aproximação do Senhor. Inaugura-se o Batismo da Aliança Nova em Jesus Cristo.
Após o anúncio de João Batista, de que, depois dele viria Alguém mais poderoso que ele e de quem não seria digno de desamarrar suas sandálias, isto é, diante de quem era menos que um escravo (cf. Mc 1,7), Jesus se apresenta para ser batizado. João anunciava o Messias esperado, que batizaria com o Espírito Santo. Após Jesus descer as águas, São Marcos relata que Jesus viu rasgados os céus, o Espírito descer sobre Ele em forma de pomba e fez-se ouvir a voz do Pai. Também o testemunhou São João Batista.
A primeira leitura, tirada de Isaías, é a profecia sobre o Servo de Deus que traz uma nova lei, novo ensinamento, e resume a atividade de Jesus em sua vida pública. “Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minh’alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações”.
Mas, por que Jesus teve de ser batizado? No seu batismo se revela quem é Ele: “Tu és o meu Filho amado, em Ti ponho meu bem-querer” (Mc 1,11). Jesus é o Filho Amado do Pai sobre quem o Espírito repousa. “É verdadeiramente o Filho de Deus que se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso Senhor”, ensina-nos o Catecismo ((CIC 469). Revela-se o mistério de Deus Uno e Trino.
Jesus desce às águas do Jordão para santificar todas as águas e para cumprir a justiça completa de Deus. Assim, Jesus tem de ser batizado pela mesma razão pela qual assume a morte na cruz. No Batismo se antecipa a sua Paixão. “Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados”, diz São Pedro em sua primeira carta, reportando-se ao Profeta Isaías (1 Pd 2,24).
Ele desceu às aguas do Jordão para nos salvar. O Pai O revela como Filho muito amado, pela sua obediência, como exprime o autor da carta aos Hebreus: “Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem, 10.porque Deus o proclamou sacerdote segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 5, 8-10).
O Papa Bento XVI nos recorda que, assim também é o nosso Batismo. Por ele, aceitamos a morte em Cristo. O batizado se configura a Cristo crucificado e ressuscitado. É o que diz o Apóstolo São Paulo: “Fomos, pois, sepultados com Ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6,4).
O cristão, renascido nas águas do Batismo, se identifica ao Filho de Deus, como filho por adoção para a obediência da fé, assumindo também em si a participação no Seu sofrimento redentor: “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). Assumir o batismo é assumir também, se preciso for, o martírio sangrento, a morte por amor do Senhor e dos irmãos, como tantos cristãos já testemunharam, também nos tempos atuais.
Todos são chamados à esta participação, diz o apóstolo São Pedro na leitura de hoje: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. Deus enviou sua palavra aos israelitas e lhes anunciou a Boa-nova da paz, por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos” (At 10,34-35).
Em tempos de cuidados ainda maiores nesta segunda onda da pandemia de COVID-19, que possamos aprender de Cristo, que deu Sua vida por nós, o cuidado conosco e com os irmãos.
Que a Imaculada Mãe de Deus, São José seu esposo castíssimo e São João Batista nos ajudem com sua intercessão, a bem viver o nosso compromisso de cristãos. E aprendamos a celebrar em ação de graças o dia de nosso Batismo.
+ Dom Miguel Angelo F. Ribeiro