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ELE ASSUMIU NOSSAS DORES

O Evangelho deste domingo nos apresenta a cura de um leproso. Os leprosos, na época de Jesus e, até bem recentemente, eram segregados de todo convívio com a sociedade. Os muitos leprosários espalhados pelos Brasil dão testemunho disto. Até a década de 70, os ônibus intermunicipais eram proibidos de parar na região de Citrolândia, o bairro que surgiu ao lado do Leprosário Santa Isabel, em Betim. A lepra grassava por todos os lugares, a falta de conhecimento e de cura para a doença, fazia ressoar ainda as palavras do Levítico: “Durante todo o tempo em que estiver leproso, será impuro e sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv 13,46). Para o povo judeu, além de doença, a lepra acarretava uma impureza religiosa. E ainda: qualquer úlcera ou mancha na pele poderia ser considerada como lepra.

Na década de 30 do século passado, em quase todas as paróquias, se erguiam, longe da cidade, abrigos para os leprosos, de onde ninguém saudável gostava de passar por perto. O pavor da doença dominava a todos, sobretudo quando os leprosos eram levados amarrados à força, e puxados por cavalos até as estações de trem ou nas carroçarias de caminhões, para os leprosários, onde se isolavam para sempre. Verdadeira morte em vida, como nos manicômios. Não há muito tempo, víamos os leprosos passarem andrajosos pelas nossas cidades e vilas, pedindo esmolas e estendendo o seu chapéu para recolher a caridade dos irmãos. Assim, também acontecia com todos os que trabalhavam com os leprosos, como São Damião de Molokai e, no Brasil, o Servo de Deus Padre Bento Dias Pacheco, em Itu- SP, ou o venerável Daniel de Samarate, em Belém do Pará, cujos processos de canonização se acham em curso. Somente na década de 40, com a descoberta das sulfonas, tornou-se possível a cura da hanseníase.

Mas, aquele leproso, segregado religiosa e socialmente, não teve medo de se aproximar de Jesus. Jesus acolhia a todos, doentes, pecadores e pobres. E, humildemente, de joelhos, lhe disse: “Se queres, tens o poder de curar-me. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado” (Mc 1,40-41). A seguir, Jesus o mandou apresentar-se ao sacerdote e oferecer o sacrifício prescrito pela Lei de Moisés, pois era judeu. Somente o sacerdote poderia lhe dar o atestado de saúde, para que se reintegrasse à comunidade. Jesus se preocupava não só com sua cura, mas com sua reinserção social, ainda difícil em nosso tempo para os curados de dependência química, egressos dos presídios, convertidos de uma vida de pecado ou mesmo os pobres. A caridade do acolhimento social continua sendo um desafio para todos.

Os versículos seguintes são surpreendentes: “Por isso, Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-Lo” (Mc 1, 45). Na verdade, Ele assumiu o lugar do leproso. Tudo isto nos recorda o canto do Servo de Deus em Isaías e que foi aplicado pelo próprio Senhor à sua Paixão e morte na cruz, quando caminhava como um peregrino junto aos discípulos de Emaús. “Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, Ele tomou sobre Si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos” (Is 53,3-4).

Ao curar o leproso, Jesus se manifesta também quem Ele é. O filho de Deus que inaugura o novo Reino, a Aliança Nova. Pois, somente Deus poderia curar um leproso como respondeu o rei de Israel a Naamã, o sírio, que lhe pedia a cura de sua enfermidade: “Sou eu, porventura, um deus, que possa dar a morte ou a vida, para que esse me mande dizer que cure um homem da lepra? ” (2Rs 5,7)

O Salmo 31, proposto para meditação entre as leituras, nos fala do perdão de Deus. O pecado, lepra da alma, que nos separa de Deus e dos irmãos. Também quando em pecado mortal, precisamos nos apresentar ao sacerdote na Confissão para celebrar e obter o perdão de Deus e nos reintegrarmos à comunidade. Só assim podemos voltar a receber Jesus na Eucaristia.

Tudo isso nos leva a meditar profundamente sobre a palavra do Apóstolo São Paulo: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (Cor 11,1). Como imitar a Cristo, neste tempo em que uma pandemia nos separa e nos distancia dos irmãos?

Que o Espírito Santo nos ilumine e nos auxiliem a intercessão de Nossa Senhora de Oliveira, São José e São Sebastião, nossos padroeiros diocesanos.

+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro

2 comentários sobre “ELE ASSUMIU NOSSAS DORES

  • Neste tempo de Pandemia…o melhor que temos a fazer é acolher as pessoas que conosco estão confinadas em nossas casas. Deus e anos dá oportunidades de encontros. Verdadeiros…
    ..mesmo no distanciamento. Não podemos deixar passar está chance de aproximação…

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