ELE NOS DEU SEU FILHO ÚNICO
Como alegrar-se no Senhor como nos convida a Liturgia, quando vivemos tempo de verdadeiro terror, com os hospitais em colapso e o vertiginoso aumento dos casos de Covid-19? As três leituras de hoje nos convidam à alegria. A Igreja troca o roxo da penitência pelo róseo da alegria. “Somos salvos na esperança” (cf. Rm 8, 24).
A primeira leitura é a anúncio da alegria pelo autor das Crônicas, quando recorda a volta dos deportados de Israel para a sua terra e a obra de reconstrução do Templo de Jerusalém por ordem do rei Ciro. Depois de um duro exílio e escravidão por 70 anos, veio a liberdade.
Mas o autor sagrado reconhece as infidelidades do povo, que foram a razão de tantas desgraças. Não serão nossas infidelidades a razão desse tempo, que nos coloca em exílio, dentro de nossas casas?
A Quaresma nos chama especialmente à conversão de nossos corações. Há pecados que, segundo as Escrituras, pedem a justiça de Deus: O assassinato, o homicídio voluntário, incluído o aborto (cf. Gn 4,10); os pecados da sensualidade desordenada: vícios contra a natureza (cf. Jd 1,7), a opulência, glutonaria, indolência, ociosidade, a arrogância, sem tomar pela mão o miserável e o indigente (cf. Ez 16,49-50) e a opressão dos pobres pelos ricos (cf. Ex 22,21-22 e Ex 2,23). E não é essa a realidade de nosso mundo?
Mas Deus não nos abandona à nossa própria sorte. O Evangelho nos dá fortemente a razão de nossa alegria e esperança. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,16-17).
Nossa vida não tem aqui o seu término. Somos destinados à plena comunhão com Deus: “Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, Ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos! Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus, em virtude de nossa união com Jesus Cristo” Ef, 2,4-7).
Qual pois a nossa resposta a ao grande amor e graça manifestados pelo Pai a toda a humanidade? Diz o Evangelho: “O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas, quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3, 19-21). Ainda o Apóstolo nos reponde: “que ninguém se orgulhe. Pois é ele quem nos fez; nós fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas, que Deus preparou de antemão para que nós praticássemos” (Ef 2, 9-10).
Neste tempo de escuridão, de trevas no mundo, que se parece à beira do abismo, somos chamados a olhar para a Santa Cruz, onde Cristo foi levantado como a serpente no deserto ou como a serpente que se enroscou na árvore do Paraíso terrestre para tentar nossos primeiros pais. O Apóstolo nos recorda que “Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta por todos os nossos pecados, a fim de que nele nos tornássemos justiça de Deus. (1 Cor 5,21).
Pela sua cruz, Cristo nos liberta de todo o mal e do poder de Satanás e dos seus anjos, que continuamente querem nos fazer perder a graça de Deus e nos condenar à maldição eterna. Olhemos para a cruz de Jesus! Nela se mostra o amor infinito do Pai pela humanidade e o poder da Ressureição de seu Filho. Esta a razão porque Jesus toma uma imagem do mal para dizer de Si mesmo: “Quando eu for levantado da terra atrairei todos a mim” (Jo 12,32). O Apóstolo São Pedro, recordando o profeta Isaías, nos esclarece: “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados” (1 Pedro 2:24 -Is 53,5).
Em Jesus está a razão de nossa alegria e nossa esperança! Não sejamos profetas da desgraça, mas, pela nossa proximidade junto aos que sofrem, mesmo com as limitações a nós impostas pela pandemia, possamos ser anunciadores do amor infinito de Deus por nós, manifestado na Paixão, Morte e Ressureição de Jesus. “Aquele que não poupou seu próprio Filho, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? ” (Rm 8,36)
Que a Imaculada Virgem Mãe de Deus, Senhora da Saúde, seu esposo São José e São Sebastião, intercedam por nós e pelo mundo inteiro. Para que, passado este tempo de dores, nos rejubilemos com as alegrias da Páscoa!
+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro