EUCARISTIA E SERVIÇO FRATERNO
Deveríamos hoje, pela manhã, celebrar a Missa da Unidade com todos os presbíteros de nossa diocese. A pandemia nos faz, mais uma vez, adiá-la. A Missa na Ceia do Senhor, que celebramos à noite, com toda solenidade, se restringe também a poucas pessoas e àqueles que, pelas mídias sociais, acompanham a celebração deste dia. Semelhantemente a Jesus, vivemos tempo de paixão.
São João, diferentemente dos outros Evangelhos sinóticos, não relata a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, mas o Lava-pés. Porque não podemos separar estas duas realidades sem trair o próprio Senhor. O sacerdote é ordenado para a Eucaristia e os sacramentos, mas também para o serviço. Por este motivo, somos ordenados diáconos, antes de ser ordenados presbíteros. Diácono é aquele que serve.
Pedro reluta em aceitar tal rebaixamento de Jesus. Lavar os pés era o serviço do escravo. Mas Jesus lhe retruca que, se não se deixasse se lavar, não teria parte com Ele. Pedro então quer que se o lave por inteiro. O gesto de Jesus nos recorda o contínuo lavar-se de que necessitamos no Sacramento da Reconciliação, que nos restaura a graça batismal, que nos fez filhos de Deus e irmãos de Jesus.
O gesto de Jesus é solene e litúrgico. Jesus toma a toalha e se debruça como servo diante dos discípulos, “antes da Festa da Pascoa, sabendo que chegara da sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Deste modo, Ele nos ensina a amar concretamente porque “a única verdade é amar” (Raoul Follereau).
A hora de Jesus é o momento de sua Páscoa: Paixão, Morte e Ressurreição. O amor despoja-se para o bem do outro. Jesus despojou-se inteiramente de Si mesmo, de sua condição divina, fazendo-Se obediente até a morte e morte de Cruz. Por isso o Pai O exaltou. (cf. Fl 2, 7-9). É também a hora de nossa salvação.
Após a Missa, somos chamados a fazer vigília com Jesus na Eucaristia. Se não o podemos nas igrejas, podemos visitar a Jesus dirigindo-os em espírito ao sacrário, para fazer ao menos uma hora de companhia a Ele no seu horto de Paixão e de amor. Devemos também demonstrar-lhe nosso afeto na caridade fraterna.
O serviço ao Senhor se demonstra no cuidado para com os irmãos que, neste tempo, se demonstra no cuidado conosco, através do distanciamento social, do uso de máscaras de proteção e na higiene, para não contrairmos a doença nem a transmitis aos outros.
E, pensemos o que podemos fazer para lavar os pés dos irmãos: em nossas casas, na distribuição das tarefas domésticas e na paciência com os defeitos um dos outros; em nossa comunidade ou paróquia, em nossa cidade e País, sobretudo para com os mais pobres.
A Eucaristia é presença do Senhor, mas será sempre pão repartido, que se multiplica em presença amorosa e de doação de Cristo. Façamos o mesmo. Ajude-nos a Virgem Maria, nossa Mae das Dores, São José, seu esposo, e os apóstolos e discípulos do Senhor. Amém.
+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro