FRUTIFICAR OS DONS DE DEUS
Nas parábolas, Jesus nos fala, de diversos modos, da realidade do Reino de Deus, do juízo e do seu retorno como Senhor.
Na parábola de hoje, o patrão é o próprio Deus, apresentado como um homem que viajou para o estrangeiro e entregou sua fortuna aos seus servos. “Muito tempo depois, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados” (Mt 25,19).
Um talento era uma grande quantidade de dinheiro e equivalia a 20 anos de trabalho. Os talentos não são dados igualmente a todos, mas, de acordo com a capacidade de cada um: a um servo, o patrão entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um.
O primeiro e o segundo empregado fizeram com que rendessem o dobro do que lhes foi confiado, receberam ainda mais no acerto de contas e foram chamados a participar da alegria do Senhor. Esta expressão, nos evangelhos, significa sempre a eternidade feliz na comunhão com Deus.
O terceiro empregado não só não trabalhou, enterrando o seu talento, como acusou o patrão de colher onde não semeou e de ceifar onde não semeou, chamando-o, pois, de ladrão e desonesto (cf. Mt 25, 24). Além disso, confessou ter medo de seu patrão, como nossos primeiros pais, após o pecado no paraíso. Adão teve medo de Deus e se escondeu (cf. Gn 3,8-10). O pecado nos dá uma visão sempre distorcida de Deus, não como pai amoroso e amigo, mas como patrão cruel e juiz implacável.
Por sua preguiça, o terceiro empregado é chamado de ‘servo inútil’. Foi lançado fora, no inferno, na separação de Deus, onde há “choro e ranger de dentes” (Mt 25, 30) e o seu talento entregue a outro.
“A preguiça é mal sem remédio”, diz o nosso povo. Entre os sete pecados capitais, elencados no Catecismo, por serem raiz de tantos outros, o sétimo é exatamente a preguiça ou pecado de omissão.
Enterrar os talentos é deixar-se vencer pela preguiça, contentar-se com o mínimo obrigatório, sem se comprometer com qualquer coisa, para não “complicar” a vida. É não se arriscar a fazer o bem e em frutificar a fé que recebemos no Batismo.
Neste domingo de eleições, podemos dizer que também é não se comprometer com o bem comum, buscando apenas seu próprio interesse ou sua comodidade. É sempre mais fácil anular o voto que buscar escolher o melhor candidato, por suas capacidades e compromisso comunitário, e depois, nunca acompanhar os que foram eleitos, para lhes cobrar promessas e o cumprimento do seu dever de servidores do povo.
Mas, que dons espirituais e materiais: riqueza, capacidades, cultura, dons de serviço e outros dons Deus nos concedeu? O que temos feito com eles? Para quê e a quem serve o que possuímos?
Nem riqueza nem miséria são causas de condenação ou garantia de vida de comunhão com Deus no Céu, mas o que fazemos com o que temos e recebemos de Deus e fizemos produzir, como já nos recordava a parábola do rico esbanjador e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Somos apenas administradores dos bens de Deus e deles prestaremos contas ao Senhor.
A mulher descrita no Livro dos Provérbios, na primeira leitura da liturgia deste domingo, é exemplo da diligência no uso dos seus talentos: vigilante, piedosa, fiel, trabalhadora e generosa para com os mais pobres. Em seu modo de viver, se apontam virtudes que todos precisamos cultivar para fazer frutificar os talentos que Deus nos concedeu.
De muitos modos, o Senhor nos exorta à vigilância, por não sabermos o dia e nem a hora de nossa prestação de contas. O Apóstolo São Paulo nos exorta: “Não somos da noite nem das trevas. Portanto sejamos vigilantes e sóbrios” (Ts 5,6).
Que a Virgem Maria, Senhora nossa, e São José nos ajudem no serviço aos irmãos e no caminho para Deus.
+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro