O ESPÍRITO SANTO SOBRE A IGREJA
A Festa de Pentecostes é o dia do nascimento da Igreja. Quando Jesus ressuscitou, no mesmo dia da Páscoa, soprou sobre os apóstolos e concedeu-lhes o Espírito Santo e o dom de perdoar os pecados, enviando-os em missão. A missão de Jesus e do Espírito Santo tem sua continuidade na Igreja (cf. Jo 20,19-23).
Para os judeus, Pentecostes era a Festa das Semanas, quando os judeus levavam ao templo as primícias das colheitas, portanto, a plenitude de sua libertação ou Páscoa ao sair do Egito, celebrada sete semanas depois desta. Celebrava a entrega das tábuas da Lei no Monte Sinai, entre os sinais maravilhosos de um terremoto, de vento e de fogo que abrasava o monte.
O Espírito sobre a Igreja, em Pentecostes, é a nova festa da colheita da Redenção, operada na cruz; da semente de Cristo, lançada sobre a terra em sua Paixão, descida entre os mortos e frutificada em sua ressurreição e glorificação pelo Pai, de onde prometera enviar o Divino Paráclito, Consolador e Defensor.
O Pentecostes da Igreja acontece no novo Sinai, o Cenáculo de Jerusalém, lugar da instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Naquele dia, foi dada aos apóstolos a nova Lei, não em tábuas de pedra, mas nos corações. No relato de São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, ele diz que os discípulos estavam de novo no mesmo lugar onde o Senhor lhes apareceu no dia de sua ressurreição, quando veio um barulho como de forte ventania que encheu toda a casa e foi ouvido por muitos que para ali se dirigiram apressadamente, curiosos com o acontecido.
Sobre os discípulos apareceram línguas de fogo que pousaram sobre cada um deles. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava (At 2,4) ”. Eram línguas, porque deveria anunciar o Evangelho, eram de fogo, porque, na força de Deus que é amor, linguagem que todos entendem, como nos explica Santo Antônio.
Todos os que ali estavam começaram a pregar sem medo o Evangelho. Pela graça do Espirito Santo derramado, perdem o medo e anunciam ao mundo inteiro a Boa Nova de Cristo. Partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos, judeus e prosélitos, cretenses e árabes, gente de toda parte os escutavam anunciar as maravilhas de Deus em sua própria língua! (cf. At 2,9-10). Cessava a confusão de Babel e iniciava-se novo tempo de unidade. A língua dos apóstolos torna-se universal.
O Espírito Santo é o autor da unidade da Igreja de Cristo. São Paulo nos recorda: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 4, 4-7).
Quando alguém se converte e confessa que Jesus é o seu Senhor e Salvador, recebeu o dom especial e fundamental do Espírito, a graça santificante que nos vem pelos sacramentos. Para a edificação da Igreja, o Senhor concede ainda, pelo seu Espírito, diversos dons hierárquicos e carismáticos, estes, segundo a necessidade de cada tempo. O Espírito Santo nos torna capazes de edificar a Igreja, pela graça santificante, ordenada à nossa salvação, e pelos dons carismáticos, que se ordenam à salvação dos outros, e a serviço da Igreja de Cristo.
Ainda São Paulo que nos recorda: A graça do Batismo nos une a Cristo e aos irmãos. “Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12-13).
Pentecostes continua a acontecer na Igreja pelo sacramento da Crisma. Por ele, cada batizado recebe o dom da coragem de testemunhar Jesus ao mundo. Peçamos, pois, com a Igreja e o salmista: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e renovareis a face da terra”.
+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro