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OBEDIÊNCIA E SALVAÇÃO

O Evangelho de hoje nos apresenta uma parábola de Jesus, contada no Templo de Jerusalém, aos sacerdotes e mestres do povo. Dois filhos a quem o pai manda o dois, sem distinção entre eles, ir trabalhar em sua vinha. A vinha de Deus representa sempre o povo de Israel e o novo povo de Deus que somos nós.
O primeiro filho diz que não vai, mas muda de ideia e vai para o trabalho. O segundo disse que iria e não foi. E Jesus fez uma pergunta: “Qual dos dois fez a vontade do Pai? ” (Mt 21,31) Diante da resposta dada pelos seus interlocutores, de que foi o primeiro dos filhos, que dissera não ir e depois fora, Jesus terminou sua reflexão com uma ironia que, talvez seja a mais dura palavra dos evangelhos e se refere a nós todos: “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem do Reino dos Céus” (Mt 22, 31e). Por que poderão nos preceder? Não pelos seus pecados, mas porque se converteram, assim como o primeiro filho da parábola contada por Jesus. Depois de um tempo de vida pecaminosa, se arrependeram e mudaram de vida, buscando viver segundo os mandamentos de Deus. Eles ouviram a Palavra de Deus pela boca de João Batista que os chamava à conversão e os chefes do povo não a ouviram. Tinham o coração fechado.
Também pode ser assim conosco. De nada adianta parecermos justos, nos enchermos de boas intenções se não as praticarmos, se não somos justos aos olhos de Deus. O formalismo religioso que consiste numa religião sem o amor que deve mover-nos, de nada nos servirá. Nosso sim a Deus precisa cada dia ser confirmado na fé, na esperança e caridade para com os irmãos, sem desejar julgar as pessoas ou rotulá-las, porque só Deus conhece o coração de cada um.
Essa parábola é, portanto, mais uma parábola da misericórdia. Deus não se importa com o meu passado, mas acolhe todo aquele que, em qualquer momento da vida, se arrepende e se volta para Ele. Não há pecado que Deus não possa perdoar, quando há verdadeiro arrependimento e mudança de vida.
De outro lado, depois de uma vida virtuosa, se achamos que Deus tem obrigações para conosco e nos deixamos envolver pelo pecado, morreremos pelo nosso pecado. Na verdade, já escolhemos a morte, porque a vida de pecado é a morte da alma, a morte para com Deus.
O profeta Ezequiel nos convida ao compromisso com Deus, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios e racionalizações, a viver com coerência os mandamentos de Deus. É sempre fácil fazer belas promessas e bons propósitos, mas o que conta são as atitudes e, entre elas, a mais fundamental é a da conversão. Precisamos nos converter todos os dias. Assim, Deus não mais olhará para nosso passado, mas para o que somos hoje e desejamos ser, se somos empenhados em perseverar no seu amor. Pecado sem perdão é a recusa do amor de Deus. Mas, Deus que perdoa o pecador arrependido, também julga o justo que se deixa levar pela impiedade (cf. Ez 18,26).
Somente um coração convertido, compassivo e terno, voltado para Deus poderá viver a comunhão no Espírito Santo (cf. Fl 2 1-4) pela qual Jesus orou: “Para que eles sejam um, assim como Nós somos um” (Jo 17,22). Essa é a condição para que o mundo creia em Cristo e se converta, e por onde tem seu início toda missão apostólica. O ouvido mais próximo do pregador é o seu próprio ouvido, ensina o Padre Antônio Vieira.
Para ser cristão, é preciso se esforçar em ter “o mesmo sentimento de Cristo” (cf. Fl 2,5). E temos uma escola: Jesus crucificado. Nele, o Pai nos mostrou até onde pode chegar o seu amor: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Assim, a Carta aos Hebreus nos recorda: “Tende os olhos fixos em Jesus, autor e consumador de nossa fé” (Hb 12,2).
Na cruz, Cristo nos ensina todas as virtudes que, sem dúvida, começam pela mansidão e humildade, como Ele mesmo nos ordenou: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração! ” (Mt 11,29). “Ele humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 1,8). Por Ele, com Ele e n’Ele, encontraremos força e repouso.
E, neste dia em que comemoramos o Dia da Bíblia, peçamos a Nossa Senhora, a Virgem da Escuta e da Obediência, e a São José, que a Palavra de Deus possa ressoar em nós e se tornar verdadeiramente nossa prática diária. Ela continuamente nos recorda: “Fazei tudo o que Jesus mandar” (Jo 2,5).

+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro

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