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PACIÊNCIA DE DEUS, PACIÊNCIA DO REINO

O tempo no qual vivemos exige de nós a virtude da paciência. O livro do Eclesiástico já nos exortava a suportar as demoras de Deus (cf. Eclo 2,3). A paciência e a resignação nos curam das desnecessárias ansiedades, mas exigem de nós disciplina e acolhimento sereno das novidades de cada dia, sejam boas, sejam más. Só o conseguiremos, se crescermos na confiança em Deus e em sua providência.

As três parábolas do Reino hoje ensinadas por Jesus, embora tragam outras interpretações, abordam todas esta virtude essencial à vida cristã e ao equilíbrio humano.

A parábola do joio e do trigo, além de nos dizer que, neste mundo, experimentaremos toda esta intrigante mistura entre o bem e o mal ou “mistério da iniquidade” (cf. Ts 2,7), nos ensina a paciência de Deus.  Desejando que todos os homens se salvem, o Senhor aguarda com indulgência e auxilia a todos com sua graça, para que se convertam e ninguém seja queimado como o joio ao fim da colheita (cf. Mt 19,42).

O grão de mostarda lançado ao solo precisa de tempo para crescer e se fortalecer, até se tornar abrigo dos passarinhos. Terá de enfrentar, como qualquer ser vivo, a fragilidade dos inícios, das pequenas mudas, que necessitam do cuidado e da rega constante do semeador (cf. Mt 19,31-32).

A mulher que coloca o fermento na massa deve ter a paciência de vê-la crescer, até que chegue o ponto de ser assado o pão (cf. Mt 19,33). 

Nosso tempo é de cuidado e de paciente espera. Precisamos saber nos cuidar, para bem cuidar dos outros. Necessitamos de paciência, para aguardar o tempo de retomada das atividades e da colheita dos frutos.

Outro ensinamento nos vem das três parábolas de Jesus: ao explicar a parábola do joio, Ele se revela como o bom semeador, Divino Semeador do Reino, com quem devemos todos nos identificar. O semeador do joio é o Diabo, palavra que significa divisão, o Maligno.

Cada gesto de bondade é semeadura do Reino de Deus. Se o semeador não tiver confiança na semente, na terra e nas chuvas de que necessita o solo; se a mulher não confia na eficácia dos ingredientes que usa para fazer o pão, não tomarão qualquer atitude e poderão se perder a semente no celeiro e a farinha na despensa.

Os empregados da parábola têm pressa em arrancar o joio que cresce no meio do trigo, e vão dizer sobre isso ao seu patrão. Ele os adverte que, arrancando o joio, arrancarão juntamente o trigo.

Quando vemos notícias de crimes hediondos, de furtos, o crescimento da violência, a corrupção política e as pequenas corrupções diárias, o desvio de recursos essenciais ao povo por gente má intencionada, e nos damos conta da injustiça reinante, podem nos vir o desejo de fazer logo justiça com as próprias mãos, atropelar processos e nos vingar de algum modo. Muitos são os que gritam hoje por pena de morte e livre uso de armas! Clamam pela aplicação imediata da lei e nunca vão às causas do mal que fomenta o crime: o desrespeito aos mandamentos de Deus, o pecado pessoal e social, a intolerância com o diferente, a marginalização social, a falta de acesso aos bens de primeira necessidade e à cultura, o excesso de leis que permite todo malabarismo jurídico em desfavor dos pobres e favorece os ricos e influentes. Hipocrisia calculada e perversa na qual podemos também nos deixar envolver!

O Livro da Sabedoria nos recorda que Deus, dominando a própria força, julga com clemência (cf. Sb 13,18). E conclui com uma palavra de fé dirigida ao Senhor: “Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a seus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores” (Sb 13,19).

Quando o desânimo de semear, a depressão e o cansaço da vida nos acometerem, “o Espírito vem em socorro de nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor com gemidos inefáveis (Rm 8,26). Ele espera que O invoquemos. Não está longe de nós! Pelo batismo, nos fez seus templos, habita em nós e sustenta com o seu sopro toda criatura. Por isso, rezamos: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovareis a face da terra! ” Por enquanto, vivemos o que nos diz São Paulo o Apóstolo das Gentes: “A criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia, com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rm 8, 19-21).

Peçamos a intercessão de Nossa Senhora e São José para que aprendamos a semear a bondade todos os dias, em nossos atos e palavras, e a paciência para esperar que nossas pequenas sementes produzam frutos.  Cada um fazendo a sua parte para minorar a dor do mundo, mesmo que ela seja aparentemente insignificante como o grão de mostarda.

+ Miguel Angelo Freitas Ribeiro

  • Imagem: reprodução Revista Missões

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