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PROVA DE FÉ E DE AMOR

Na primeira leitura ouvimos o relato do sacrifício de Abraão. Abraão era um homem religioso e desejava oferecer a Deus o que tinha de mais precioso. Deus então o coloca à prova e ele sente que Deus lhe pede seu filho único, gerado em sua velhice e sua esperança de posteridade (Cf. Gn 21-22) Porque Abraão pensou nisso? Ele vinha de um povo pagão, em que eram comuns os sacrifícios humanos, como entre os astecas, os maias e os incas na América, algumas religiões ancestrais da África e da Ásia ou mesmo entre nossos indígenas.

A prova de Abraão torna-se não só a maior prova de fé (cf. Hb 11, 8-19), é o momento em que Deus se revela em toda sua magnanimidade, em sua bondade e misericórdia.

Abraão sobe o Monte Moriá e leva consigo a faca. Isaac leva sobre os ombros a lenha para o sacrifício. Que angústia de pai e que angústia de filho! Isaac percebe que vai a um sacrifício, mas não vê vítima. Por isto sua pergunta angustiada: “Isaac disse ao seu pai: “Meu pai! ”. “Que há, meu filho? ” Isaac continuou: “Temos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto? ’ Deus, respondeu-lhe Abraão, providenciará Ele mesmo uma ovelha para o holocausto, meu filho. E ambos, juntos, continua­ram o seu caminho.” (Gn 22, 7-8).

No alto do monte, Isaac percebe que ele será a vítima, quando o pai armou o altar, colocou a lenha e o amarrou. Que angústia de pai e que dor de filho! Quando Abraão levantou a faca para o sacrifício, “o anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: ‘Abraão! Abraão! ’. ‘Eis-me aqui! ’ ‘Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora sei que temes a Deus, pois não Me recusaste teu próprio filho, teu filho único’. (Gn 22,11-12).

Abraão viu então um cordeiro entre os espinhos e sacrificou o cordeiro (cf. Gn 22,13). Deus não deseja sacrifícios humanos e, com Abraão, põe fim a que os homens ofereçam outros homens em seu lugar. Ele se contenta com um cordeiro.

Pela sua obediência na fé, Abraão se torna o pai de todos os que creem (Cf. Rm 4). Nele serão abençoados todos os povos ou nações chamadas à fé (Cf. Gn 22,18). O sacrifico que Deus deseja é o sacrifício do coração: “Meu sacrifício é minha alma penitente”, diz o Salmista (Sl 50,19a).

Jesus iniciou sua pregação com um chamado à conversão e à participação no Reino de Deus (cf. Mc 1,15). Mas somos povo de cabeça dura (cf. Ex 32,9). Jesus então anuncia aos discípulos sua Paixão. Eles não compreendem nem aceitam que o Messias em quem acreditavam pudesse sofrer e morrer daquele modo. Foi quando Jesus chamou três testemunhas privilegiadas, Pedro, Tiago e João, e os levou ao monte Tabor. E transfigurou-Se diante deles, revelando-lhes sua glória futura, sua condição de Filho de Deus (Cf. Mc 9,2-10).

O que foi confiado a Jesus por ocasião do seu batismo por João (cf. Mc 1,11), agora é dado a conhecer aos apóstolos. Ao lado de Jesus, estão Moisés e Elias. Para os judeus, essas duas personagens simbolizavam toda a Escritura: Moises lhes dera a Torá, a Lei, e Elias simbolizava os profetas. É preciso ouvir a Lei e os Profetas para conhecer Jesus. Ele mesmo o disse aos discípulos em Emaús (cf. Lc 24).

A visão maravilhosa despertou em Pedro o desejo de perpetuá-la. Desejou construir ali r ali três tendas, esquecido até de si mesmo e de seus companheiros (cf. Mc 9,5). Nesse momento, a voz de Deus os chamou. O Pai, da nuvem que os cobria, repetia-lhes o que antes dissera ao próprio Jesus: “Este é o meu filho amado” (Mc 9, 7c). E ordenou-lhes: “Escutai o que Ele diz! ” (Mc 9 7c). Eles precisavam ouvir e acolher a palavra sobre a Paixão e a cruz, deveriam descer do Tabor e subir a Jerusalém, testemunhando uma outra subida, a do Calvário, onde Jesus se entregou por nós e para a nossa salvação, abrindo para sempre as portas da eternidade.

Deus que poupou Isaac, figura de Cristo, que também subiu o monte levando o lenho da cruz para o sacrifício, não poupou a Jesus, seu único Filho. Também este invocou-O como Pai no Horto e na cruz. Esta é a palavra de São Paulo na segunda leitura deste domingo: “Deus que não poupou seu próprio Filho, mas O entregou por todo nós, como não nos daria tudo junto com Ele. Nós assim nascemos da fé de Abraão e somos renascidos pela morte e ressureição de Cristo porque nós somos justificados, recebemos o dom Graça da salvação” (Rm 8,32-33).

Não há glória sem cruz nem Páscoa sem Semana Santa, em razão de nossa existência pecadora. Não podemos seguir a Jesus, sem tomar a nossa cruz de cada dia (cf. Lc 9,23), no despojamento, na humildade, na partilha, no amor fraterno, na busca da unidade, no diálogo e no serviço generoso aos irmãos. É este o convite permanente da Igreja, reforçado em cada Quaresma. É hora de nos perguntarmos: Quem ou o que é o nosso isaaque? O que temos de mais precioso? Muitas vezes, nosso isaaque é apenas o apego às coisas e aos antigos pecados. Que o sim de Abraão, o sim de Maria e José, o sim dos apóstolos, que não hesitarem dar a vida pelo Evangelho e que o grande sim de Jesus nos encorajem. Ele é o nosso sim! Nossa esperança e nosso monte.

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