Quando o menos é mais
Não posso deixar de recordar este axioma tão sábio diante dos excessos ocorridos em nossas liturgias e paraliturgias e nas festas de padroeiro. Refiro-me ao que considero abusos que beiram ao escândalo: o excesso de flores, de fogos de artifício e a moda dos shows após as celebrações, com músicas nem sempre recomendáveis, mais ainda quanto às letras.
Não é o caso de desejar separar em rígidos limites o sagrado do profano, mesmo porque a salvação operada por Cristo alcança toda a realidade humana. As festas sempre foram lugar em que estes limites se tornam mais tênues. A questão ainda se coloca diante dos gastos excessivos em coisas absolutamente secundárias, em detrimento da evangelização, da caridade e das missões ad gentes, que deveriam ser o primeiro compromisso das comunidades cristãs.
Não se pode tolerar que, em nome de uma festa religiosa, se arrecadem prendas e dinheiro a ser queimado com foguetes, em espetáculos, que podem ser tão bonitos quanto perigosos, enquanto faltam lugares para a catequese, capelas decentes, e refugiados de guerra, das perseguições religiosas, das intempéries e da fome, mendigam da caridade dos cristãos um pouco do que comer.
Como não se escandalizar com os excessos de flores nos altares enquanto os pobres ficam sem amparo?
Com as paraliturgias, nem sempre colocadas em seu devido lugar como diz o nome ‘paraliturgia’ – ao redor da Liturgia – especialmente fora da celebração eucarística.
Como não chorar diante dos shows que enchem os programas de muitas de nossa festas, onde, ao lado da música de má qualidade, as letras pobres de poesia promovem exatamente o antievangelho do adultério, do sexo irresponsável, do álcool, das drogas e da pornografia, que, todos o sabemos, movimenta toda uma indústria de pecado?
Como não se indignar diante dos enormes gastos com fogos de artifício, dinheiro feito cinza em poucos minutos, quando pelo menos parte do dinheiro poderia se usar na evangelização, na promoção humana, na prevenção dos vícios e na promoção da cultura?
Gaste-se com tudo isto, mas não seja abandonado o principal. Está na hora de fazermos todos um sério exame de consciência e voltar à sobriedade evangélica proposta pelo Senhor nas Bem-aventuranças. Afinal, é também profundamente evangélico o axioma acima recordado que nos faz voltar ao equilíbrio cristão. Deus nos ajude!