VINDE E VEDE
Hoje, vemos no Evangelho o convite de Jesus aos primeiros discípulos apresentados por João como o “Cordeiro de Deus! ” (Jo 1,36b) Estas palavras aparentemente misteriosas de João Batista recordavam aos discípulos que Jesus seria o Servo de Deus profetizado por Isaías, que tiraria o pecado do mundo e, ao mesmo tempo, anunciava sua Paixão e morte.
O primeiro dos discípulos foi André, irmão mais novo de Pedro, e um outro discípulo, cujo nome não é citado, mas que a Tradição diz ser autor do Quarto Evangelho, João o Evangelista.
O convite de Cristo se deu, quando os dois discípulos perguntaram a Jesus onde permanecia ou onde morava, depois da apresentação de João Batista. O Evangelista refere-se que era pelas 4 horas da tarde. Não só porque, ao entardecer, deveriam se recolher, mas porque esta hora marcou para sempre sua vida. E, naquele dia, permaneceram com Jesus. Tornaram-se discípulos de Jesus, pois já esperavam o Messias e O buscavam, ao se fazerem discípulos de João Batista, que anunciava Sua chegada iminente.
André imediatamente foi encontrar-se com Pedro comunicando-lhe ter encontrado o Messias. Jesus, ao ver Pedro, lhe disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro) ” (Jo 1,42c). Jesus profetizava assim o que confirmaria em Cesareia de Felipe e, após sua ressurreição, sobre o ministério de Pedro, cujo sucessor é hoje o Papa Francisco.
Neste evangelho se mostra todo o mistério da vocação cristã. Somos chamados a permanecer com Jesus e nos tornar seus discípulos e filhos de Deus pelo batismo. Permanecer como discípulo é escutar sua Palavra e meditá-la no coração, como o pequeno Samuel, chamado ainda pelo Senhor na infância, e como a Virgem Santa Maria. A Samuel, o sacerdote Eli ensinou exatamente a responder: “Fala, Senhor, que teu servo escuta! ” (1Sm 9c)
A escuta de Deus deveria ser de toda pessoa, para a escolha de sua vocação e estado de vida. Porém, podemos nos perguntar: nossos jovens interrogam a Deus sobre sua vocação, sobre o caminho seguir na vida cristã, na vida consagrada, sacerdotal, religiosa, no casamento ou na escolha profissional? Uma vocação bem vivida é meio de santificação pessoal e do mundo. Tantas escolhas apressadas, seguidas de dolorosa frustração, nos alertam que, às vezes, muitos escutam somente a si mesmos. Escutar exige a oração sincera e obediente, o silêncio de nossa parte, a avaliação de nossas aptidões e o conselho dos outros. Quando nossos pais e muitas pessoas sensatas nos alertam sobre um caminho que poderá ser malsucedido, precisamos ter a humildade de ouvir com atenção, para melhor discernimento. A obsessão na busca de um caminho, como se fosse a única maneira de ser feliz, demonstra imaturidade e orgulhosa teimosia. Não há verdadeira escuta sem a humildade de coração. Nosso mundo barulhento, muitas vezes, impede a escuta de Deus e da própria consciência onde Deus nos fala.
Infelizmente, testemunhamos também essa atitude em nosso tempo, quando o negacionismo da gravidade da pandemia e a irresponsabilidade dos que se recusam a tomar os cuidados necessários, a ouvir a palavra autorizada da ciência sobre a doença e a necessidade de vacinação e a respeitar as leis. Preferem sua ‘bolha digital’, escutando somente o que lhes agrada ou sustente suas opiniões, com nefastas consequências para toda a sociedade.
Como quem foi conquistado por Cristo, o apóstolo São Paulo nos recorda que, integrados a Cristo, como membros de seu corpo, devemos permanecer com Ele, na santidade e responsabilidade de nossa vocação, no cuidado e respeito para consigo e com o próximo. Afinal, nossa liberdade foi comprada pelo Sangue Precioso do Senhor. Dar glória a Deus é viver santamente cada dia como Deus nô-lo der, na alegria do serviço aos irmãos.
Ajudem-nos em nosso caminho Nossa Senhora, São José e os Santos Apóstolos e Discípulos do Senhor, que souberam ouvir e permanecer com Jesus.
+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro