CARTA À IGREJA NO BRASIL SOBRE O CAMINHO SINODAL PARA AS DIRETRIZES GERAIS DA AÇÃO EVANGELIZADORA
Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração. Mostrai-vos solidários com os santos em suas necessidades. (Rm 12, 11- 13)
Caríssimos irmãos e irmãs,
- Com afeto pastoral, nós, bispos do Brasil, dirigimo-nos aos cristãos leigos e leigas, aos presbíteros, diáconos e consagrados(as), presentes e atuantes em nossas Igrejas particulares que, unidos pela fé, esperança e caridade, compõem a grande sinfonia do povo santo de Deus.
Que a “graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” (cf. Rm 1, 7) estejam com todos vocês. - Em comunhão e em caminho com toda a Igreja, “convocada em sínodo” pelo Papa Francisco, encontramo-nos como peregrinos, reunidos na 59ª Assembleia Geral da CNBB, sob o olhar materno da Virgem Mãe Aparecida, celebrando os 70 anos de existência e missão de nossa Conferência Episcopal. Guiados pelos estímulos suscitados pelo tema de nossa Assembleia – Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão -, em atitude humilde de escuta recíproca
e de diálogo sincero, com o ouvido do coração atento à voz do Senhor que nos fala, procuramos conhecer e discernir o que o Espírito “diz às igrejas” (Ap 2, 11). Une-nos a convicção de que “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”1 e afirmamos o nosso compromisso de construir uma Igreja decididamente sinodal. - Nossa Igreja no Brasil tem sido construtora e testemunha de um processo amadurecido e consistente de discernimento e assimilação do caminho de renovação e empreendido, com o fruto do Concílio Vaticano II, um processo marcado por desafios, aprendizados e superações. Reafirmamos nosso compromisso eclesial com a continuidade deste caminho e a 1 Discurso do Papa Francisco em comemoração do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos, 17 de outubro de2015. convicção de que, entre nós, não há espaços para retrocessos. Precisamos avançar e construir caminhos novos, conscientes de que caminhar juntos exige de todos nós: mais fraternidade e menos rivalidade; mais partilha e menos egoísmo; mais cooperação e menos competição; mais sentido da vida cristã em comunidade (“diocesaneidade”) e menos individualismo na vivência da fé; mais abertura à escuta e ao diálogo e menos imposição das próprias ideias e decisões; mais flexibilidade e menos resistência à ação do Espírito Santo; menos medo e mais ousadia e profetismo para assumir os riscos do testemunho da fé.
- Nossas Igrejas particulares vivenciaram com entusiasmo e desafios a primeira etapa do caminho sinodal, exercitando-se no aprendizado da sinodalidade, a partir da escuta de todo o povo de Deus e do diálogo com os vários ambientes humanos e sociais. O dinamismo com o qual este processo foi vivido, testemunha a riqueza da diversidade e a harmonia das convergências que manifestam o rosto de nossa Igreja. A síntese produzida servirá como
instrumento para discernir e propor diretrizes que respondam aos desafios da ação evangelizadora. Somos, portanto, agradecidos a todos os que colaboraram como atores neste processo de escuta, e os encorajamos a continuar caminhando juntos, pela Igreja e pelo Reino. - Estimulados por esta experiência eclesial vivida, iniciamos o processo de atualização das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – DGAE. Elas são expressão e fruto de uma longa tradição sinodal na história da Igreja no Brasil e constituem-se uma bússola na caminhada pastoral, alimentando a unidade e comunhão na missão. Nestes últimos anos,
iluminados pelo texto de Atos 2,42, traduzido criativamente na imagem da casa e seus pilares, as atuais Diretrizes nos desafiam com sua proposta central de fortalecimento e capilarização em Comunidades Eclesiais Missionárias – CEM. Não obstante os desafios enfrentados, sobretudo aqueles advindos do drama da pandemia, muitos frutos temos a apresentar do percurso feito até agora, em resposta às orientações oferecidas pelas últimas Diretrizes. Sentimos a ação do Espírito a nos conduzir, suscitando autênticas experiências de conversão pastoral em nossas Igrejas particulares. Mas, com certeza, precisamos avançar! - Em estilo sinodal e com estruturas que garantam maior comunhão e participação de todo Povo de Deus, reconhecemos a validade das atuais Diretrizes e propomos um itinerário que aprofunde e integre os desafios dos novos contextos. Cremos que, conhecendo-o, poderemos assumi-lo com mais empenho e alegria, como uma construção coletiva e dele participarmos deforma solidária, ativa e corresponsável.
a) Desejamos prolongar o exercício da escuta, acolhendo a síntese das respostas ao Sínodo sobre a Igreja Sinodal apresentadas pelas dioceses, as reflexões oferecidas pelos bispos e pelos organismos do Povo de Deus na 59ª Assembleia Geral da CNBB e outras contribuições que forem aportadas.
b) Para 2023, propomos a vivência de um tempo de discernimento que se desdobre na compreensão de conceitos presentes nas Diretrizes, na apresentação concreta de metodologias e indicações pastorais, à luz das Constituições principais do Concílio Vaticano II;
c) Em 2024, nos dedicaremos à recepção e aprofundamento das indicações do documento final do Sínodo em curso, e à oração, como preparação imediata ao Jubileu Ordináriode 2025;
d) Em 2025, no contexto do Jubileu, será apresentada na 62ª Assembleia Geral da CNBB, a nova redação do texto das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, fruto maduro de todo esse nosso percurso paciente e participativo. - Do processo de escuta, até o momento, algumas indicações têm sido apresentadas em nossas partilhas, pelos Bispos, comissões e organismos do povo de Deus, tendo em vista a construção das futuras DGAE. Estas indicações nos estimulam a prosseguir no caminho de escuta e de diálogo que decidimos empreender. Por isso, desejamos motivar a participação das comunidades, à luz do seguinte questionamento: Diante do atual contexto social e eclesial, o que devemos considerar na elaboração das próximas Diretrizes? As contribuições devem ser enviadas à Comissão do Tema Central, através do e-mail: temacentral@cnbb.org.br,até 31 de julho de 2023.
- Como “Peregrinos da Esperança” voltamos o nosso olhar para a Virgem Maria, Senhora Aparecida, a quem contemplamos como “como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor” (LG 68). Seja Ela a Estrela a nos guiar e a nos iluminar na comum responsabilidade de plasmarmos o presente e o futuro de nossa Igreja.
Em nome dos irmãos,
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
D. Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente
D. Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá – MT
2º Vice-Presidente
D. Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral
Fonte: cnbb.org.br