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O MISTÉRIO DE MARIA

A celebração de Nossa Senhora Aparecida coloca-nos no centro do mistério de Maria, isto é, do próprio mistério de Cristo, porque nela tudo se refere a Ele. A liturgia de sua solenidade nos leva a refletir esse aspecto.

O caminho de Maria é o de Jesus Cristo. Na sua Conceição Imaculada, ela foi preparada para mãe digna do Filho Unigênito do Pai. Na Anunciação, foi chamada a dar sua resposta livre e consciente ao projeto de salvação. Na sua Maternidade, foi preservada perpetuamente virgem: como um grande sinal na terra a que ia ser apresentada como grande sinal no céu em sua assunção gloriosa e bendita!  De pé junto a Cruz, é a consoladora do Filho, dada a nós como Mãe das Dores e Consoladora dos Cristãos e Mãe de todos os povos nesta terra de exílio.

Nas Bodas de Caná, nos foi revelada como onipotência suplicante. Suplicante, porque todo o seu poder vem d’Aquele de quem o recebeu: Todo poder vem de Deus! (Cf. Rm 13,1)

 Onipotente, porque Deus lhe concedeu tudo, ao conceder-lhe a divina maternidade.  Deus não muda o seu modo de agir. Aquela que tinha autoridade intercessora na terra sobre o seu Filho divino, a conserva no céu, conforme ensina São Luís de Montfort, na sujeição absoluta à Divina Vontade: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra! ”  (Lc 1,38)

Não tendo outra vontade em seu coração que a vontade de Deus, não pode senão pedir que Ele a realize logo. O que Maria continua a fazer é apressar em nosso favor a hora da graça. Também isso é da vontade de Deus, que manifestou em Jesus não desejar perder nenhum dos seus (cf. Jo 6,39) e, por meio d’Ele, conceder a todos a vida em abundância: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo 10,10).

O Evangelho das Bodas de Caná nos ensina exatamente isso.  São João quer decididamente destacar o papel de Maria na obra da salvação. Nesse episódio, antes de falar de Jesus, o Evangelista introduz a figura de Maria: “A mãe de Jesus estava lá” (Jo 2,1), certamente para ajudar os noivos. Só depois, diz que também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para a festa.

Quando faltou vinho para a celebração, Maria aproximou-se de Jesus. Não lhe fez um pedido, não lhe ordenou nada como mãe, apenas deu-lhe uma informação, manifestando-Lhe toda sua confiança: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3). A resposta de Jesus poderia nos parecer estranha: “Mulher por que dizes isto a mim? ”  (Jo 3,4a). Seria como se lhe dissesse que não era um problema dele. Mas, a palavra seguinte esclarece tudo: “Minha Hora ainda não chegou! ” (Jo2,4b) Sabia Jesus que, se fizesse algo naquele momento, apressaria a hora de sua revelação como Messias e noivo da Aliança Nova. O que se realizaria na Paixão parecia se antecipar. Maria não se importa. Apenas apresenta uma palavra de confiança, secundada pela ordem de Jesus para que os empregados enchessem com água as talhas de pedra do Antigo Testamento. Os empregados fizeram-no com simplicidade, talvez sem entender muita coisa do que aquele Mestre da Lei ordenava.

Ao ser provada a água pelo mordomo, o chefe dos empregados, era agora vinho precioso, muito melhor que o primeiro. Estava adiantada a hora de Jesus (cf. Jo 2,10).

Em Caná, Jesus realizou, a pedido de sua mãe, o seu primeiro milagre (cf. Jo 2,11). Na suprema Hora da Paixão, instituirá o seu milagre permanente, ao transformar o pão e o vinho da Missa no seu Corpo e Sangue. Milagre que todos os dias acontece aos nossos olhos, sobre nossos altares pelas mãos do sacerdote. Mais estupendo que o primeiro e mais misterioso, porque, em Caná, mudaram-se as aparências e a substância da água em vinho; na Eucaristia, mudam-se as substâncias, mas permanecem as aparências. Vemos água e vinho, mas recebemos o Corpo e o Sangue de Cristo, ressuscitado e vivo no meio de nós, glorioso alimento que nos sustenta e fortalece.

Por isso Jesus nos quis dar sua Mãe como nossa Mãe justamente ao pé da Cruz.   Ela, compreendendo que deveria estar na hora presente como mãe em todo o tempo da Igreja, na terra e no Céu, continua a nos dizer: “Fazei tudo o que Jesus mandar” (Jo 2,5).

Até os fins dos tempos, ela estará sempre antecipando a Hora de Jesus como em Caná. Quando Maria aparece aos simples, quando atrai aos seus santuários de toda a terra a multidão dos fiéis seus filhos, não os retém para si. Envia-nos a Jesus, exatamente como em Caná da Galileia, manda-nos à Reconciliação e a Eucaristia; a amar os irmãos com amor reconciliado, a tomar e comer do Corpo e tomar do Sangue de Jesus, para que tenhamos todos a vida eterna (cf. Jo. 6,56-59).

Que então mais podemos pedir à Senhora, senão que nos antecipe a hora de Jesus? Que nos apresente a Ele, quando d’Ele nos esquecermos, para que nossa água se transforme em vinho precioso pela sua presença? E hoje, como necessitamos do vinho da alegria e da confiança, quando as tristezas oriundas da pandemia de COVID=19, da violência, das drogas e da corrupção corroem o tecido social! Como necessitamos do vinho novo da fidelidade, do acolhimento e da boa educação!

A impureza, a pornografia e o adultério ameaçam cada vez mais a família, não só pela TV, mas também pela internet onde são abundantes as infidelidades e as notícias falsas!   Como necessitamos do vinho novo da fé, do compromisso com Cristo, que nos faz discípulos e missionários do Evangelho para a vida do mundo!

Ó Maria, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Nazaré, o Verbo de Deus, ao fazer-se homem em vosso seio, elevou a humanidade à nova condição: “Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher! ”  (Gl 4,5)

Em Caná, a vosso pedido, água se fez vinho pela presença de Jesus. Em Aparecida, das águas no rio Paraíba, ao surgir quebrada vossa pequenina imagem em oração, pesca abundante surgiu das águas que antes pareciam estéreis. E, desde então, a cada dia, daquele lugar se oferece a Deus uma multidão de corações em prece! Também, Senhora, nos pequeninos santuários de todo o mundo, fazei de nossa vida, estéril de bons frutos, fonte abundante de bens espirituais para o nosso povo e para a salvação do mundo!

Apressai a hora de Jesus: dai-nos santos e numerosos sacerdotes, diáconos, religiosos e missionários, dai-nos santas famílias, dai-nos jovens e crianças que sejam santos.

Dai-nos amor à Palavra de Deus, ao estudo do Catecismo, o amor à verdade a nós transmitida pela Tradição da Igreja.

Concedei que os joelhos e o colo dos pais e das mães sejam escola e altar da fé para os filhos, para que, em seus lares, sejam seus primeiros e fundamentais catequistas.

Afastai de nós a droga do pecado, apresentai-nos de novo Jesus com a palavra ordenadora de vossa boca: “Fazei tudo o que Jesus mandar! ”  Pois, contemplando a Divina Face de vosso Filho, seremos salvos! Amém.

+ Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro

Imagem: Sidney de Almeida

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