VINDE ESPÍRITO SANTO
A festa de Pentecostes, comemorada cinquenta dias após a Páscoa, para os judeus se denominava Dia das Primícias, Festa das Semanas ou das Colheitas, e celebrava a gratidão a Deus pelo dom da terra e de seus produtos e, mais tarde, pelo dom da Torá, instrução divina por excelência contida no Pentateuco ou cinco primeiros livros da Bíblia. O nome ‘Pentecostes’ se deu quando a Grécia passou a dominar o mundo antigo e a língua dos helenos tornou-se popular também entre os judeus.
É significativo que o dom do Espírito Santo à Igreja tenha acontecido durante esta festa, quando se celebrava em comunidade o dom da Palavra. Assim, o Espírito Santo é chamado com propriedade de Divino Dom Pascal do Senhor, sua herança ou sua colheita.
Naquele dia, “os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 1, 2-3).
O Espírito Santo havia se manifestado em forma de pomba no Batismo de Cristo. Em Pentecostes, fez notar sua presença nos sinais do vento que “sopra onde quer” (Jo 2,8) e de línguas de fogo. Ele fez com que os medrosos discípulos de Jesus começassem a falar em outras línguas e a pregar as maravilhas de Deus e o Evangelho de Cristo Morto e Ressuscitado à multidão que se reunia em Jerusalém, de diversas regiões e falantes de muitos idiomas do mundo antigo.
Espírito de Unidade, o dom de Pentecostes reuniu todos os povos num só louvor e, pelo Batismo, faz de todos os que creem um só e mesmo corpo de Cristo (cf. 1 Cor 12,13), na unidade da fé e da caridade (cf. Ef 4,13-14). Ele faz cessar a maldição de Babel, advinda do orgulho e da presunção da humanidade em sua autossuficiência (cf. Gn 11-1-9). Por este motivo, o Espírito Santo é dom permanente de reconciliação no sacramento da Penitência, que o Senhor instituiu no dia mesmo de sua Ressureição, fazendo da Igreja a mestra da reconciliação e, dos apóstolos e seus sucessores, os seus ministros (cf. Jo 20,22-23).
O Espírito Santo continua a agir e a dar vida à Igreja. Desperta nas comunidades a multiplicidade de carismas e serviços para que se estabeleça logo o Reino de Deus entre os homens: “reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino de justiça, do amor e da paz” (Prefácio da Festa de Cristo Rei). Faz com que proclamemos a todos os cantos que “Jesus é o Senhor! ” (1Cor 12,3b). Assim, a cada tempo a Igreja se vê enriquecida de novas formas de pastoral, comunidades, associações, movimentos e serviços.
Neste ano, a Solenidade de Pentecostes coincide com o dia 31 de maio, encerramento do Mês de Maria, em que celebramos a memória de sua visitação à Santa Isabel. Maria é a esposa mística do Espírito Santo, que tornou fecundo seu seio virginal. Levando em si o Verbo eterno feito homem, canta com Isabel o louvor de Deus que liberta e mantém sua aliança e fidelidade para com o seu povo. Nossa Senhora também demonstrou a mesma fidelidade, quando se colocou a ao lado de sua prima Isabel e de Zacarias no serviço doméstico, enquanto aguardava o nascimento do Precursor.
Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo e nele vive enche-se de alegria e se coloca a serviço dos irmãos. Celebra, cada dia, a misericórdia de Deus que “demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos. Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos e despediu, sem nada, os ricos” (Lc 2, 52-53). Por isso, compromete-se e alimenta a esperança de um mundo renovado.
Rezemos para que o Espírito Santo desça com nova efusão sobre o mundo, mergulhado nesta horrível pandemia e no aumento da pobreza material e moral. Rezemos por intercessão de Nossa Senhora de Pentecostes, a Senhora de Todos os Povos, como ela nos ensinou nas aparições em Amsterdã:
“Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai, enviai agora o Vosso Espírito sobre a Terra. Fazei o Espírito Santo habitar nos corações de todos os povos, para que sejam preservados da decadência, das calamidades e da guerra. Que a Senhora de Todos os Povos, Maria de Nazaré, seja Nossa Advogada. Amém”.
Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro